“Sem comunicação não há vida, não há cristianismo, não há evangelização”

“Sem comunicação não há vida, não há cristianismo, não há evangelização”

O Jornalista Elson Faxina é conferencista no Seminário de Jovens Comunicadores

O Jornalista Elson Faxina é conferencista no Seminário de Jovens Comunicadores

Elson Faxina aponta os desafios de se comunicar disputando espaço entre tecnologia e comunidade

Durante os dias 24 a 27 de Julho, centenas de jovens comunicadores, profissionais da área ou interessados no tema, estarão juntos em Aparecida – SP para debater o atual cenário católico no 2º Seminário Nacional de Jovens Comunicadores, promovido pela CNBB.

O evento acontece paralelamente ao 4ª Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação e traz grandes ícones da comunicação católica no Brasil. O jornalista Elson Faxina ministra uma palestra sobre as mudanças socioculturais provocadas em comunidade com interferências da tecnologia, ora aliada da comunicação e outra, temida por muitos se não for utilizada na maneira correta – ou pelo menos, da forma ideal.

Confira a entrevista abaixo com o profissional que dá dicas para um bom comportamento católico nas redes sociais e em outros veículos de comunicação.

1) Qual será o tema da palestra abordada no 2º Seminário Nacional de Jovens Comunicadores? Qual é a relação da palestra com o tema geral do encontro “Comunicação, desafios e possibilidades para evangelizar na era da cultura digital”?

Eu vou trabalhar a partir do tema “Comunicação e mudanças socioculturais provocadas pelas tecnologias digitais”, que tem tudo a ver com o tema geral do encontro. Para mim e, creio, para todos que estudam e pesquisam comunicação hoje, trata-se de um desafio enorme entender, selecionar e apontar quais são, entre as muitas mudanças provocadas por essas tecnologias, aquelas que de fato merecem maior atenção nossa, enquanto cristãos, enquanto pessoas que são chamadas a vivenciar a fé nesse novo cenário sociocultural, de forma a contagiar outras pessoas com a nossa maneira de ser e viver para si e para o outro, em sociedade. Entre as mudanças que pretendo focar uma é sobre as novas formas de constituir comunidade. Afinal, ser Igreja é viver em comunidade, mas essas novas tecnologias pluralizaram infinitamente as maneiras de se criar e viver comunidade. Se nós temos respostas antigas e fundamentais para comunidades territoriais e até temos algumas respostas para comunidades que se organizam fora das relações de proximidade física, enfrentamos enormes dificuldades ao tratar de comunidades desterritorializadas, muitas das quais efêmeras. Essas novas comunidades, formadas por outras formas de convocação, são um dos maiores fenômenos potencializados por essas novas tecnologias. E nós precisamos entender essas novas “tribos” para nos inserirmos nelas, para contagiá-las com a mensagem evangélica. Outras mudanças trazidas por essas tecnologias se manifestam no volume de informações, não necessariamente críveis; na rapidez com que tudo acontece; desenvolvendo uma sociedade, especialmente a juventude, que busca pela felicidade imediata, ainda que passageira; uma sociedade pouco afeita ao aprofundamento dos temas, à reflexão, à contemplação; uma sociedade que cria vínculos pela paixão, mais do pela obrigação. Isso significa dizer que devemos retomar a diferença entre temer a Deus e apaixonar-se por Deus. Aliás, precisamos compreender a diferença entre ser temente a Deus e ter medo de Deus. Ser temente é respeitar, ser devoto, ser dedicado. Devo trabalhar ainda sobre outra mudança provocada por essas tecnologias que muda, de alguma maneira, nossa relação com o conhecimento. Hoje, a sociedade, especialmente a juventude, entende o conhecimento quando construído no fazer mais do que no refletir. Somos uma sociedade que pensa com as mãos e com o corpo; uma sociedade que pensa mais com o coração do que com a cabeça.

 

2) Na sua opinião, qual é a importância de encontros como este?

Esses encontros são fundamentais porque permitem algumas trocas essenciais de saberes. Um deles é sentir-se parte de algo muito grande, importante, necessário. Sentir que não está sozinho fazendo Pascom, mas que muita gente por esse país a fora está “inventando” uma Pascom nova em cada lugar, porque ela deve responder às demandas do local onde se insere. Outro é conhecer novas práticas, novos modos de fazer Pascom, novas técnicas, conhecer quais as soluções que outros encontraram para coisas que são difíceis de se resolver na minha paróquia ou diocese. Outro ainda é aprender a partir da reflexão conjunta sobre os grandes temas que nos desafiam enquanto comunicadores cristãos, como é o tema deste ano.

 

3) Discutir comunicação deve ser uma prática constante do jovem católico, seja ele profissional da área ou não?

Com certeza. Sem comunicação não há vida, não há cristianismo, não há evangelização. E comunicação não é um fenômeno dado, fixo, imutável. Ao contrário, quanto mais se estuda comunicação mais a gente sente a necessidade de entendê-la melhor, para melhor praticá-la. Quem não discute, não estuda comunicação envelhece, torna-se ultrapassado rapidamente. Entre as vertentes fundamentais da comunicação, destaco aqui duas: o domínio da técnica de se fazer comunicação e a compreensão do que queremos com a comunicação que fazemos. Nosso papel de comunicadores cristãos não é o de fazer boletins, produzir e veicular notícias e reportagens, dar uma boa palestra, fazer um belo programa de rádio ou de TV… nosso papel é construir sociedade. Por isso, devemos sempre nos perguntas: nossas reportagens, notícias, programas, nossos boletins, jornais, rádios e televisões estão ajudando a criar uma nova sociedade? Se sim, perfeito. Se não, que pena! Estamos perdendo tempo na vida; ou melhor, estamos perdendo a vida no tempo.

 

4) Diante do boom digital, como deve ser o comportamento católico perante as redes sociais? Há uma conduta a ser seguida? 

Enquanto conduta, creio sempre que a ética e a cidadania – que para mim são o mesmo que valores cristãos, evangélicos – devem ser o eixo de nossa forma de agir na vida, portanto nas redes sociais. Devo usar essas redes com bom senso, com responsabilidade, de forma a respeitar o outro e garantir a integridade da informação que por ali se veicula. Por outro lado, devo aproveitar as redes sociais para agrupar as pessoas em torno de causas humanas, de compromissos sociais de cidadania, como nos ensinou Jesus Cristo. As redes sociais são o grande espaço que se abre hoje para a sociedade se comunicar. A qualidade dessa comunicação vai depender de nós. Aliás, as redes sociais são hoje o espaço de uma infinidade de novas comunidades que vão sendo criadas e recriadas. Nós precisamos estar nessas comunidades e fazer ali a diferença. Mas, provavelmente, a diferença ali não será estabelecida pelo verbo, pela palavra, pelo que eu digo; mas pela ação, pelo exemplo, pelo que eu faço. Nós vivemos uma sociedade em que o verbo passa pela carne; isto é, a palavra só se consolida se se tornar vida ou se for dita a partir da vida, da vivência. É uma sociedade que parece nos pedir: “não me diga, mostre-me”.

Por: Aline Vonsovicz

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