ARTIGO: A verdade em tempos de redes online

ARTIGO: A verdade em tempos de redes online

Em um tempo não tão distante, deparei-me com uma postagem que chamou minha atenção em uma rede social. Publicada por uma conhecida minha, suspeitei que essa postagem trazia uma grande mentira. Uma pesquisa online e logo a suspeita se confirmou: era tudo uma grande invenção. Querendo colaborar para desfazer o erro publicado, mandei mensagem para a pessoa. A resposta surpreendeu-me mais que a mentira. Ela dizia que o perfil da rede era seu e que não se importava se era mentira ou não, desde que se cumprisse o papel de atacar uma pessoa em questão; e que caso eu estivesse incomodado, era para excluí-la da minha rede de amigos. Realmente, excluí subitamente.

Notada e inquestionavelmente, a internet nos permite uma pluralidade de informações nunca antes vivida. As tecnologias se mostraram ótimas aliadas no processo de informação. Porém, com uma quantidade incalculável de informações, veio junto a falta de senso crítico, que pode dificultar para que a verdade prevaleça. Infelizmente, mesmo com tantas formas de se informar, muitos acabam “comprando” e compartilhando mentiras disfarçadas – mesmo que mal vestidas – de verdade.

Uma pesquisa publicada pela Escola de Computação Interativa do Instituto de Tecnologia da Georgia, em Atlanta (EUA), pode nos ajudar a compreender ou ao menos visualizar o problema. O estudo descobriu que 25% das notícias publicadas na rede social Twitter, um microblog online, são mentiras. Ou seja, a cada quatro informações compartilhadas, uma é mentira.

Sobre o tema, o Papa Emérito Bento XVI, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2013, diz que “estes espaços (as redes sociais online), quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate que, se realizadas com respeito e cuidado pela privacidade, com responsabilidade e empenho pela verdade, podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente a harmonia da família humana”.

E ainda acrescenta que “a troca de informações pode transformar-se numa verdadeira comunicação, os contatos podem amadurecer em amizade, as conexões podem facilitar a comunhão. Se as redes sociais são chamadas a concretizar este grande potencial, as pessoas que nelas participam devem esforçar-se por serem autênticas, porque nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma”.

Em poucas palavras, a mensagem do Papa Emérito diz que o ambiente online pode ser um importante e valorizado espaço de informação, desde que se preze pela verdade e responsabilidade. Mas é isso que vemos nestes ambientes de encontro?

Algumas vezes, também, acreditamos que estamos fazendo algo bom, mas a falta de critério e de pesquisa faz com que compactuemos com uma mentira e, pior, a propaguemos. Um exemplo é uma foto, que muito ainda circula na internet, de um casal de Cuiabá. A postagem diz que são dois sequestradores de crianças e – para o bem – deviam todos compartilhar para alertar aos pais. Obviamente a intenção é boa. Infelizmente muitos casos de crianças seqüestradas são registrados, como vimos na Campanha da Fraternidade do ano de 2014, que trouxe a preocupação com o tráfico humano.

Francineide Freitas Leal é a jovem que aparece na foto, acompanhada por seu ex-marido. A vida da operadora de caixa mudou totalmente. Ela é inocente. Não sabe, ao certo, como o boato começou. Somente que a exposição na internet a faz receber ameaças. Ela parou de andar de ônibus, cortou o cabelo para não ser reconhecida, mas nada adiantou. É vítima dessa falta de responsabilidade que assombra o mundo virtual – mas com grande influência no “real” – e faz com que as redes pareçam “terra de ninguém”.

O pesquisador e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio e do Creative Commons no Brasil, Ronaldo Lemos, refletindo sobre a questão em sua coluna semanal no jornal Folha de S. Paulo, trouxe a ideia de “Como nasce uma notícia falsa”. Lemos nos mostra que devemos começar por sempre fazer seis perguntas sobre qualquer informação: Quem criou a mensagem? Quais técnicas foram usadas para atrair minha atenção? Que estilos de vida ou valores são apresentados ou omitidos na mensagem? Por que essa notícia foi compartilhada? Como outras pessoas podem entender essa informação de modo diferente de mim?

Buscar a verdade e compartilhar os valores cristãos que necessitamos vivenciar é um grande passo para que sejamos responsáveis e para darmos autêntico testemunho de quem escolhe ser discípulo de Jesus e nunca deixar de segui-Lo. O testemunho deve ser dado em todos os ambientes nos quais estamos inseridos, sejam eles físicos ou nas redes online. A busca pela verdade é fundamental para isto.

*Por Adilson Jorge – Jornalista da Pascom da Paróquia São Sebastião, Diocese de Amparo (SP).

Leia mais:

“Uma em cada 4 notícias publicadas no Twitter é falsa” – Folha de S. Paulo.

“Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização” – Bento XVI. Mensagem para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais.

“Como nasce uma notícia falsa” – Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo.

“Vítima de boatos sobre sequestro de criança recebe ameaças na internet” – G1.

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