Um itinerário de verdadeira conversão

Um itinerário de verdadeira conversão

Quaresma 2014Com a Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas, nós iniciamos o tempo litúrgico da Quaresma, um itinerário de verdadeira conversão que nos conduz ao Tríduo Pascal, memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Com a imposição das cinzas em nossas cabeças, a Igreja nos recorda que a vida terrena é passageira e nos convida a colocar diante de nós o mistério salvífico de Jesus, para que possamos alcançar a fonte da misericórdia e assim conquistarmos, no tempo oportuno, a vida eterna. “Convertei-vos e acreditai no Evangelho (Mc 1, 15), é o grande desafio que a Igreja nos faz em nome de Jesus, recordando-nos nossa condição de pecadores e a necessidade de penitência e de mudança de vida.

A Quaresma é o tempo favorável para renovar a nossa caminhada de conversão e fortificar em nós a fé, a esperança e a caridade e, por isso, é um tempo de graça e de reconciliação. Desde o início da Quaresma, nós somos convocados a um caminho de renovação no Espírito Santo que se inicia no deserto. O deserto é um lugar de aridez e de questionamentos, mas é também um lugar de dependência de Deus, de recolhimento e discernimento do que é realmente essencial em nossas vidas.

Para fortalecer os nossos passos neste itinerário quaresmal, a Igreja nos oferece a Palavra de Deus, que é sempre nova, eficaz e produz frutos abundantes nos corações dos fiéis que a acolhem com humildade. Pela adesão à Palavra, nós somos mais sensíveis às necessidades dos irmãos pobres. Deste modo, realizamos gestos caritativos e testemunhamos o real valor da esmola. A esmola e os gestos de caridade fazem parte do nosso testemunho cristão e são uma clara resposta à gratuidade da graça divina, pois “se recebemos gratuitamente, é gratuitamente que devemos dar”. (Mt 10,8).

Na Quaresma, mais do que dar coisas, “devemos aprender a estar com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres! Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a Sua carne sofredora”. (Mensagem do Papa Francisco para a XXIX JMJ). Por outro lado, não podemos esquecer as sábias palavras da beata Teresa de Calcutá, que nos diz: “A primeira pobreza dos povos é não conhecer Cristo”. Portanto, em nosso itinerário da Quaresma, devemos testemunhar nossa alma missionária, para levar, de um algum modo, a alegria e a esperança aos desanimados e aos tristes.

O itinerário do tempo quaresmal caracteriza-se por um particular espírito de oração, de reflexão e penitência. Por meio da perseverança na oração, crescemos na intimidade com Cristo, crescemos na santidade, aprendemos a fazer o bem e traduzimos, nas diversas situações do nosso dia a dia, os mesmos sentimentos de nosso Redentor, que deu a Sua vida por nós na Cruz. Com os mesmos sentimentos de Cristo, na Quaresma, aprendemos que “é necessário rezar porque para viver na coerência cristã é necessária a oração, porque a coerência cristã é um dom de Deus e precisamos pedi-lo: Senhor, que eu seja coerente! Senhor, que eu não escandalize nunca, que eu pense como cristão, que eu sinta como cristão, que eu aja como cristão”. (Papa Francisco, Homilia na capela da Casa Santa Marta, em 27 de fevereiro de 2014).

Para alcançarmos a verdadeira conversão, precisamos vivenciar a penitência. Por meio da penitência, incrementamos nossa pertença a Deus e à Igreja, pois, meditando sobre o dom incomensurável de graça que é a Redenção, percebemos que o pecado é o grande mal a ser continuamente evitado e a graça é o grande dom a ser cultivado.

Mediante o exercício do jejum, o itinerário da Quaresma é ainda um tempo de sacrifícios. A sociedade atual tem uma profunda necessidade de redescobrir o valor do sacrifício que nos faz sensíveis à Paixão de Cristo. Deixar de fazer aquilo que gostamos em prol do atendimento das necessidades do outro é sempre um ato de fé que revela nossa plena adesão à vontade salvífica de Cristo, que nos questiona: “Sabeis qual é o jejum que Eu aprecio? É repartir o teu pão com o faminto, dar abrigo aos infelizes sem teto, vestir o nu, quando o vires, e não desprezar nunca o teu irmão”. (Is 58, 6,7). Por conseguinte, o nosso jejum não deve ser um ato ocasional e isolado, mas sim a expressão da nossa união fraterna e um sinal concreto de amor a quem vive na necessidade, reconhecendo nele o rosto de Cristo que nos repete: “Era pobre, estava marginalizado e tu Me acolheste”.

Por meio da oração, da esmola e do jejum, vamos caminhar firmes e esperançosos nesse itinerário da Quaresma rumo à Páscoa. Eu espero que a Quaresma deste ano de 2014 se torne uma sólida ocasião para cada cristão se fazer um autêntico discípulo missionário de Jesus, a fim de ser instrumento do Seu amor ao serviço dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos.

Confiamos estes quarenta dias de oração, de penitência e de conversão à Virgem Santa Maria. Seja Ela a acompanhar-nos e a conduzir-nos a celebrar, com dignidade, o grande mistério da Páscoa, revelação suprema do amor gratuito e misericordioso de nosso Senhor Jesus Cristo. Uma boa e santa Quaresma para todos!

Aloísio Parreiras, membro do Movimento de Emaús

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